РУССЛИЙ

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Envelhescência

Pois é, cheguei na terceira idade e percebi que posso ter mais 40 anos pela frente (se considerarmos os mais de 250 mil idosos centenários, só no Brasil!) e resolvi escrever sobre minha família, para minha filha e futuros netos.   Um dos textos virou crônica e recebeu o primeiro prêmio no 1º Prêmio Chapel de Literatura - na categoria Crônica.  Quero compartilhar com vocês, pois o texto fala sobre meus tios-avós russos, muito queridos que me criaram e também sobre a envelhescência, título deste post.  Aqui está. 

Duas Xícaras – uma crônica de família
Memória
Meus tios-avôs, já velhinhos, viviam no Guarujá numa casa simples em rua de terra.  Saíam pouco.  Tinham receio de tropeçar nos passeios irregulares ou escorregar e cair nas valas que recolhiam a água da chuva.
Glieb, meu tio-avô de 83 anos, passava seus dias sentado na varanda com um jornal ou livro nas mãos, segurando-o sem ler, olhando o jardim que deixava crescer livremente e falando pouco e devagar.  Titia reclamava, muitas vezes irritada, que ele já não se lembrava de muita coisa e não entendia quase nada do que se falava em seu redor. 
Um dia, logo que cheguei, Glieb levantou-se e declarou que tinha que ir ao mercado comigo.  Fomos.  Devagarinho, parando para examinar cada folhinha e admirar cada jardim, ouvir cada passarinho, falar com cada gato no muro e cada cachorro que latia, íamos observando as nuvens e as pipas no céu, caminhando com dificuldade as três quadras que nos separavam do armazém.
Chegando na loja, olhou as prateleiras até achar a seção de louças.  Escolheu cuidadosamente uma grande xícara de chá – daquelas primeiras que apareceram de vidro opaco – e levou-a até o caixa.  Pediu para embrulhar para presente.
Voltamos para casa.  Quando Titia abriu a porta, Glieb, beijando sua mão, majestosamente entregou-lhe o pacote.  Duas grossas lágrimas rolaram pelas faces de Titia enquanto abria o embrulho.  E ela me disse baixinho, surpresa: “ele se lembrou que hoje é meu aniversário…”.

Lembrança
Como não jantava havia anos, Titia Marussia, minha tia-avó, gostava de tomar café com leite no final do dia.  Todas as tardes, lá pelas quatro horas, sentava-se na cozinha e gloriosamente preparava sua bebida predileta.   Não importa o que houvesse acontecido - seu café com leite era sagrado.  Acho que esta é uma das imagens mais fortes que tenho dela: sua imperturbabilidade. 
Titia gostava de arrumar a mesa, quase sempre com uma toalha bordada por ela mesma e, ainda que os pratos não fossem da mesma cor, nunca faltava um raminho de flores do jardim - alegria, hibiscos ou margaridas - para enfeitar a jarrinha de leite que ela usava como vaso.  Assim, ela me dizia, “enfeitava a vida”.
Quase aos 90 anos foi viver na casa de idosos, levando também sua louça.   Eram algumas peças de porcelana delicada, chinesa, branca com vivo creme e pequeninas florzinhas.   Quando ela faleceu, só fiquei com suas fotos; afinal ela nunca se prendeu a nada e suas pessoas queridas estavam lá, nas fotos que eu havia prometido guardar.
Muitos anos mais tarde, visitando o lar de idosos onde Titia viveu, por ocasião de um bazar, deparei-me com uma xícara, de porcelana delicada, chinesa, branca com vivo creme e pequeninas florzinhas.  Somente esta havia sobrado da louça da Titia.  Estava lá sozinha escondida num canto, única. Apesar de envelhecida pelo tempo e empoeirada, reconheci-a imediatamente e não resisti.  Senti que tinha encontrado a Titia novamente.  Comprei-a imediatamente e levei-a como um tesouro para casa.  Onde está até hoje, enfeitando a janela-vitrine bem pertinho da estante de Titia que está na sala.
Espero que tenham gostado.

beijos,
Vicky

domingo, 5 de junho de 2011

Entrevista com Sra. Elena Konovalova

Nome completo:  Elena Pavlovna Konovalova.  O "Pavlovna" sendo o patronímico (nome que, em russo, as pessoas recebem, derivado do nome do pai, tanto para homens como para mulheres e que vem logo depois do nome de batismo).

D. Elena como é conhecida por todos, nasceu na Sibéria, na cidade Tumén em 1953, chegando ao Brasil em 1992, no estado do Paraná.  Logo se mudou para São Paulo.

Concluiu os estudos na Rússia e é diplomada pela Escola de Medicina de Donetsky, cidade da Ukrânia.

Em contato com a comunidade russa em São Paulo ficou sabendo do trabalho no Lar São Nicolau, mantido pela Sociedade Filantrópica Paulista e logo aceitou o posto oferecido pela diretoria de Encarregada Geral, em 12 de outubro de 2004.

Dado o perfil dos residentes, pessoas de idade avançada, muitos com mais de 80 anos que tem dificuldade em expressar-se em outro idioma senão o russo, D. Elena contribui diariamente para que a comunicação entre eles, os funcionários e visitantes seja sempre melhorada, já que muitos também não tem parentes próximos e aqui são tratados como pessoas da família.  Falando sobre os residentes, lembrou-se de muitos amigos que se foram e com quem pode conviver, comentando sobre suas histórias.

D. Elena disse que este lugar é como um centro de convivência onde os mais velhos, originários de tão longe, podem se sentir mais próximos da sua pátria antiga, através das conversas em russo, da decoração, da comida, e da observação dos costumes e tradições russos, que D. Elena procura sempre manter, principalmente com afeto, para que possam matar a saudade de sua terra e da família.  Assim procura fazer que o Lar São Nicolau tenha um ambiente bem familiar

Contou que os aniversários são lembrados e também comemorados os "dias de santo" como é costume na Rússia - o dia de Santa Helena foi nessa sexta, 3 de junho - e também a Páscoa, a Maslenitza (Blinis) que é celebrado 40 dias antes da Páscoa, Natal que é sempre no dia 7 de janeiro (13 dias após o Natal do calendário atual); sendo todas as datas religiosas de acordo com o antigo calendário.

D. Elena lembra que as visitas são sempre bem-vindas, das 9 às 18 horas, respeitando assim os horários de descanso, e que a porta está sempre aberta para os amigos que queiram vir prosear com os residentes.

Uma avó muito "coruja", D. Elena se orgulha de seus três netinhos:  Iago de 6 anos, Alexei de 4 anos e Gregori de 3 meses, dois deles filhos da filha que agora mora na Bahia.  A filha e o filho, casados com brasileiros, a fazem sentir também brasileira, ainda mais que estará completando 20 anos de Brasil agora em 2011.
Na foto abaixo D. Elena na sala principal da Zakuska, usada em ocasiões mais formais, que decorou em estilo russo, com os quadros, gravuras, Ícones religiosos e também bonecas e ovos de páscoa pintados russos, tendo à frente um autêntico samovar russo (bule para servir chá):
A foto abaixo mostra um típico quarto de residente, que D. Elena nos mostrou aqui no Lar São Nicolau, com as fotos de familiares, uma poltrona para leitura, flores, quadros e almofadas; este pertence à Sra. Nadya:

Fotos dos dois Bazares

Quase íamos esquecendo das fotos que foram tiradas do Bazar Pós Carnaval e agora do Bazar para o Dia das Mães... vejam abaixo:

Observem aqui o belíssimo mural, pintado pelas saudosas irmãs gêmeas, Sras. Litkin, residentes do Lar São Nicolau.  O mural representa histórias infantis russas, ocupa duas paredes da Zakuska e foi restaurado recentemente.




Na foto acima, Sr. Dé, responsável pela montagem e desmontagem dos dois bazares.  Muito obrigado por toda sua ajuda!!

Nosso segundo bazar deste ano, realizado para o Dia das Mães transcorreu bem apesar da frequencia menor devido à forte chuva.  No entanto, tivemos tempo para conhecer pessoas novas, da comunidade e do bairro, trocar idéias, prosear muito.  Os residentes também gostaram de ver coisas e pessoas novas.
Tivemos a participação da artesã Sra. Magdalena Maria dos Santos, acompanhada de sua mãe, Sra. Aparecida Maria dos Santos, expondo seu trabalho com bolsas confeccionadas com tecido – vejam estas fotos:


No sábado, antes do bazar, tudo foi montado e neste dia tivemos a grande ajuda da voluntária Sra. Veronika Kedor, na colocação de preços e arrumação das roupas a serem vendidas.  Nosso muito obrigado. Na foto abaixo Sra. Veronika aprecia os quitutes da culinária Russa, sendo vendidos pela Sra. Idalina, que preparou as comidas, sob orientação de Sra. Elena Kovalova, Encarregada da entidade.
Sra. Helena Kalinin, filha da Sra. Tamara Kalinin (que participou do primeiro bazar), esteve presente junto com Sra. Tatiana Zaitseff, trazendo lindos objetos de artesanato Russo.  Na primeira foto, Sra. Tamara e na segunda Sra. Tatiana:


A incansável Sra. Rosana, Assistente Financeira e Secretária da entidade, esteve presente tanto no sábado como no domingo, trabalhando durante a realização da Assembléia, assim como durante o bazar, o tempo todo no Caixa, na foto abaixo.  Agradecemos a sua valiosa ajuda!!

Na foto abaixo, Sr. Vladimir (Sr.Vova como é carinhosamente chamado), voluntário que recepcionou os visitantes, conversando com Sra. Rosana.  Muito obrigado por todo seu trabalho sempre.  Aliás, Sr. Vova fará 80 anos no domingo, dia 5 de junho de 2011.

Mais fotos da Equipe do Bem Estar formada por funcionárias do Lar São Nicolau que foram as grandes vendedoras nos dois bazares; vejam também o Lucas, ajudante mór na barraquinha dos livros, filho de D. Idalina:




Visitas de moradores do entorno, como irmãs Sras. Susana e Angela Jardim, artista plástica - vejam no site: http://www.zazajardim.com.br/ - junto com Sra. Helena Kalinin (Zaia), na foto abaixo:
e muitas outras pessoas que, devido à agitação do evento, não tivemos tempo de fotografar!  Mas vocês podem aparecer pois a Lojinha da Zakuska agora está aberta, sempre no 1º e 3º domingo de cada mês e também durante a semana para os visitantes, residentes e funcionários do Lar São Nicolau.

Até mais!

Paternidade Responsável – uma História Fantástica de...

... GATO! 
Gato?  Sim!  Aqui está tal como ouvi contar...
Era uma vez, na velha Shanghai, no final dos anos 40, uma menina russa que morava num prédio, no 4º andar.  Nas janelas dos prédios havia sempre um cordão aonde se penduravam para secar meias e outras peças pequenas de roupa. 

Ela tinha um gato.  Todo sapeca e curioso, como soem ser os gatos, explorava tudo.  Gostava de investigar tudo que se mexia e que fazia algum barulho.  Um dia esse gato xereta foi brincar com a roupa estendida que balançava ao vento, balançou-se no cordão e...
P
  L 
     A
        F
           T

... estatelou-se no chão, quatro andares abaixo. 

Ficou bem machucado,
teve o quadril quebrado
e teve que ser engessado. 

Mas como acontece com os gatos que tem nove vidas, sarou e ficou bom de novo.  Mais tarde apareceu uma gatinha muito charmosa de raça Siberiana e os dois tiveram vários filhotes.

Um dia, um dos filhotes desse gato sapeca – também sapeca como o pai – foi parar no parapeito da janela.   A menina que brincava com os gatos observou o gato-pai com um salto alcançar o parapeito, tomar o filhote na boca e levá-lo até o chão.

A menina não acreditando no que havia testemunhado, resolveu confirmar:  levou o filhotinho até o parapeito e novamente, mais que depressa, o gato-pai foi lá e salvou o gatinho.

O gato pai se chamava TABBY e a  menina é nossa amiga conhecida T.S. que agora tem 75 anos.

Essa é apenas uma das histórias que você pode ouvir no “Canto de Prosear”,  aqui no Lar São Nicolau.