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terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

O SABIÁ

O texto abaixo foi publicado originalmente no Especial de Natal do Jornal "A GAZETA DO POVO" de Campina das Missões, Rio Grande do Sul, em 23 de dezembro de 2014.
É de autoria de nosso colaborador Sr.Jacinto A. Zabolotsky, Advogado, Mestre em Direito.


"Sou um desses privilegiados que acorda com o canto do sabiá. Canta todas as manhãs deve estar numa laranjeira, pessegueiro ou em algum quintal da cidade. A única palmeira em que vi sabiá cantar foi no poema de Gonçalves Dias. Talvez porque aqui não existam palmeiras, apenas coqueiros, desses que dão pequenos cocos amarelos.
Dado o esclarecimento, explico  agora porque sou um privilegiado. Poderia ser despertado por um despertador ou outras maneiras bruscas, que jogam a gente diretamente do sono na luta cotidiana. Não. Despertar ao canto do sabiá é acordar aos poucos, é ir tirando os véus do sono lentamente, é ir abrindo os olhos para a realidade de forma suave, sem choque. Quem acorda assim sai da cama com ânimo arredondado, sem aspereza na voz e nos gestos, em paz com o mundo.
Todo dia 05 de outubro é celebrado o dia do pássaro e desde 2002, o Sabiá Laranjeira tornou-se por lei a ave símbolo do Brasil. Já no século XIX, nosso grande poeta Gonçalves Dias, aclamara esse pequeno notável na Canção do Exilio “Minha terra tem palmeiras aonde canta o sabiá, as aves que aqui gorjeiam, não gorjeiam como lá.”
Mas não termina aí. Durante do dia, da janela do escritório, é possível, não só ouvir, mas ver como eles são. Nesta época do ano, antes do Santo Natal, eles se exibem em plena forma física e de plumagem e, nos finais da tarde, cantam copiosamente, tanto cantam que a gente perde até o jeito de se queixar do cansaço do dia. Como queixar-se de um dia que terminou tão sonoro, com cantos tão apaixonados?
Falei em canto, no plural, mas ninguém se engane. Embora sejam muitos sabiás, nunca ouvi um coro deles. Também nunca ouvi uma balbúrdia, um querendo se fazer ouvir mais do que os outros. O sabiá canta sempre em solo. Pode até dar a impressão de que existe um único sabiá. Acho que Gonçalves Dias, pensou quando escreveu que minha terra tem palmeiras onde canta “o” sabiá. Não escreveu “onde cantam sabiás”. E não foi por causa da rima, que esse problema de rima se dá um jeito de resolver. Foi porque de fato o canto do sabiá parece vir de um único sabiá. Os gorjeios variam a distância de que vem o canto parece maior ou menor, mas a sensação que se tem é de que o cantor é sempre o mesmo.

A conclusão a que chego é de que os sabiás também gostam de ouvir sabiá cantar. Quando um deles limpa a garganta e inicia seu trinado, os outros fazem silêncio e ficam apreciando. Essa hipótese explicativa baseia-se, é claro, na teoria da harmonia cósmica, em que todos os seres se amam e respeitam mutuamente. Mas pode ser que a teoria certa seja outra, a do conflito universal. Nesse caso, o que os sabiás fazem, cada um por sua vez, é participar uma competição para saber quem canta melhor. O prêmio, sabe-se lá, pode ser a conquista as sabiá mais bonita ou mais jeitosa. Nesse caso, haveria também entre elas concursos de beleza ou de dotes. Tudo muito complicado. Por isso, prefiro a primeira teoria: o canto do sabiá fala da harmonia do mundo, dando um exemplo, as pessoas, que nesta época do ano, ficam mais sensíveis, por isso FELIZ NATAL a todos!"

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