Nascida na Rússia, ela chegou ao Brasil aos 10 anos com a família e
escreveu mais de 270 livros.
|
Tatiana Belinky com seus pais aos 2 anos de idade |
Uma das mais importantes escritoras da literatura infanto-juvenil do
País, Tatiana Belinky morreu ontem (15 de junho de 2013) aos 94 anos depois de
ficar 11 dias internada no Hospital Alvorada, em São Paulo. Tatiana escreveu
mais de 270 livros, entre eles Coral dos Bichos e O Grande Rabanete.
"Ela foi uma personalidade muito importante na cultura brasileira e
de São Paulo. Não só na literatura, mas também no teatro e na televisão",
disse sobre ela a escritora de literatura infantil Ruth Rocha, amiga da autora
e companheira de Academia Paulista de Letras.
Tatiana nasceu em Petrogrado, na Rússia, em 1919, e chegou ao Brasil aos
10 anos com a família, que fugia das guerras civis que assolavam o país. Aos
18, após concluir um curso preparatório pela faculdade Mackenzie, começou a
trabalhar como secretária-correspondente bilíngue, nos idiomas português e
inglês. Aos 20, ingressou no curso de Filosofia da Faculdade São Bento, mas o
abandonou em seguida, quando se casou em 1940 com o médico e educador Júlio
Gouveia (1914-1988).
Foi em 1948 que Tatiana começou a trabalhar em adaptações, traduções e
criações de peças infantis para a prefeitura de São Paulo com o marido. Quatro
anos depois, eles criaram o programa Os Três Ursos a pedido da TV Tupi, que
conquistou tanto sucesso a ponto de definir a carreira de escritora de Tatiana.
Logo, o casal foi convidado a ter um programa fixo na emissora. Foi lá que ela
e Júlio fizeram a primeira adaptação em 1952, a primeira versão de “O Sítio do
Picapau Amarelo”, de Monteiro Lobato, a quem chegou a conhecer e cuja obra a
encantava - Tatiana sempre dizia se identificar com a boneca Emília. O
programa ficou no ar ao longo de 11 anos.
O casal ficou na emissora até 1966 e, seis anos depois, Tatiana iniciou
uma série de colaborações na imprensa, escrevendo sobre crianças especialmente
para o Estado e o Jornal da Tarde. Foi em 1985 que ela se tornou escritora de
livros infantis de fato, colaborando em uma série infanto-juvenil. Em 1987,
publicou seu primeiro livro, Limeriques, pela editora FTD, baseando-se nos
limericks (poemas curtos) irlandeses.
Outro livro, o autobiográfico “Transplante
de Menina – Da Rua dos Navios à Rua Jaguaribe”, editado pela Editora Moderna.
O escritor, dramaturgo e jornalista Sergio Roveri, que fez uma biografia
da autora, o volume "...E Quem Quiser Que Conte Outra" (coleção
Aplauso, Imprensa Oficial de SP), em 2007, relembra de Belinky como uma pessoa
"afetuosa, de uma memória prodigiosa e muito ativa". "Ela dizia
que as crianças ainda eram muito subestimadas", diz Roveri.
Segundo o crítico de teatro infantil Dib Carneiro Neto, a obra de
Tatiana Belinky, para teatro, literatura e televisão, tem algo para amar, algo
para detestar, algo para torcer, algo para desprezar. "Tem algo que
encanta e algo que espanta, algo que incomoda e faz pensar - e algo que cativa
e faz brincar. Ela nunca tem pressa de terminar uma história, e mantém o ritmo
de uma narrativa sem se importar com a agilidade da internet das crianças de
hoje", afirma. "Para ela, nunca se deve subestimar a inteligência da
criança. Fazem perguntas que precisamos estar prontos para responder ou ser
honestos para dizer ‘não sei’."
Para
os pequenos, mas também para o público adulto, a autora também foi uma
tradutora de renome.
Publicou traduções de diversos dos principais
autores russos, como Anton Tchekhov e Leon Tolstoi, de quem lançou uma versão
de "Senhor e Servo e Outras Histórias" (editora L&PM).
|
Tatiana Belinky comemorando seu aniversário de 93 anos! |
No final da biografia da escritora, feita por
Sergio Roveri, Belinky pediu que fosse incluída a seguinte mensagem: "No
entanto, quando entrego uma nova obra, eu peço uma gentileza aos editores. Por
favor, publiquem rápido para que eu tenha tempo de ver. Estou com 87 anos e não
sei se posso esperar até os cem anos. Até os 95, estou disposta, mas depois
disso não me comprometo." A escritora teve dois filhos, André, que já
morreu, e Ricardo.